Este espetáculo foi contemplado com o prêmio Miriam Muniz de Teatro da Funarte.
Estreou no Rio de Janeiro, na sala Multiuso do Espaço SESC-Copacabana, em 2006.
Participou do Festival de Teatro do Grupo Piollin, em João Pessoa, em 2007.
Participou da Operação Orquestra Improviso, com temporada no Teatro Gláucio Gil - RJ, em 2008.
DESABOTOA MINHA GOLA é um solo inspirado na vida e obra de Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu.
DESABOTOA MINHA GOLA não pretende recriar o personagem histórico, nem fazer uma cronologia da vida de Patrícia Galvão. Em vez disso, o espetáculo explora fragmentos desta autêntica personalidade. A mulher que estava por trás do mito: seus amores, seus ideais, suas contradições e fraquezas, sua humanidade.
DESABOTOA MINHA GOLA é um jogo entre atriz e personagem, século XX e século XXI, modernismo e pós-modernismo, a memória e o momento presente.
A performance é intimista e confessional. Pagu é uma fonte de investigação, uma forma de voltar ao passado - através de uma história privada - para falar do tempo presente, da nossa herança cultural, nossos medos e desejos.
DESABOTOA MINHA GOLA é o resultado de uma pesquisa histórica e artística, cujo objetivo é refletir sobre a contemporaneidade, sem negar o passado, mas renová-lo, “antropofagizá-lo”.
A dramaturgia da peça foi criada durante os ensaios, num processo colaborativo entre diretor e atriz. O roteiro foi inspirado nos relatos da autobiografia “Paixão Pagu” (Editora Agir), na biografia “Dos Escombros de Pagu”, de Tereza Freire (Edições SESC-SP) e na antologia “Pagu Vida-Obra”, organizada por Augusto de Campos (Brasiliense).
E, finalmente, o desejo de que - através do teatro - a voz de Pagu fale a novas platéias, a novos ouvintes. A voz de uma mulher que nunca se calou, que teve a coragem de nunca se calar.

SOBRE PAGU

Pagu é uma das personagens femininas brasileiras mais importantes e controversas do século XX. Intelectual, escritora, jornalista, musa do movimento modernista, militante e ativista política, feminista e revolucionária.
         Patrícia Galvão nasceu em 1910, em São Paulo, filha de descendentes de imigrantes alemães. Aos 18 anos casa-se com Oswald de Andrade (com quem tem um filho) e é uma das participantes mais ativas do movimento modernista.
       No entanto, ela se sente desapontada com a elite cultural paulista e decide entrar para o partido comunista. Como membro do partido, ela viaja para diversos países, entre eles China, Rússia, Polônia, França. Decepcionada com o que viu, ela volta ao Brasil e é perseguida pela ditadura Vargas, é presa diversas vezes.
        Em 1940 Pagu sai da prisão, deixa o partido e casa-se com o jornalista Geraldo Ferraz, com quem tem outro filho.
        Durante esses anos, Pagu escreve para diversos jornais, como cronista, critica literária e teatral. Traduz importantes obras de Arrabal, Ionesco e Artaud.
        Depois de tentar suicídio duas vezes, morre em 1962, aos 52 anos, vitima de câncer.
        Suas últimas palavras antes de morrer foram: “desabotoa-me esta gola”

"EU QUERO IR BEM ALTO, BEM ALTO... É QUE DO OUTRO LADO DO MURO TEM UMA COISA QUE EU QUERO ESPIAR." (Pagu)



LEMBRAR implica num processo ativo de reconstrução. ESQUECER é uma função essencial para o bom funcionamento da memória.



TRECHO DO ESPETÁCULO, por Ludmila Rosa


Eu queria fazer um espetáculo simples;
Eu queria fazer um espetáculo que falasse diretamente com a platéia;
Eu queria fazer um espetáculo onde ator e personagem se confundissem o tempo todo;
Eu queria fazer um espetáculo que se passasse numa esquina qualquer, uma encruzilhada, um lugar de ninguém;
Eu queria fazer um espetáculo que falasse do passado - fazendo uma ponte com o presente, e do presente - fazendo uma ponte com o futuro;
Eu queria fazer um espetáculo que falasse da desilusão; da solidão; da sensação de estar só, mesmo quando a gente está rodeado de gente;










Eu queria fazer um espetáculo que eu pudesse ficar no lugar da platéia e a platéia pudesse estar no meu lugar, ao mesmo tempo;
Eu queria fazer um espetáculo que fosse político, poético e existencial;
Eu queria fazer um espetáculo que a platéia saísse do teatro e tivesse vontade de viver;
Eu queria fazer um espetáculo que as pessoas saíssem do teatro e repensassem suas vidas e pudessem mudar tudo em um segundo;
Eu queria fazer um espetáculo para que eu fosse amada, reconhecida, aceita, que eu fosse aplaudida de pé, durante oito minutos;
Eu queria fazer um espetáculo definitivo;
Eu queria fazer um espetáculo contraditório;
Eu queria fazer um espetáculo que a platéia saísse do teatro e não fosse comer pizza;
Eu queria fazer um espetáculo que tivesse uma luz muito forte que quase me cegasse;
Eu queria fazer um espetáculo cheio de erros, todo torto;
Eu queria fazer um espetáculo que fosse ao mesmo tempo apolíneo e dionisíaco;
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse nua, transparente, que a platéia pudesse se ver através de mim, além de mim;
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse invisível;









Eu queria fazer um espetáculo que os meus amigos fossem encontrar comigo depois no camarim e falassem a verdade... mas com muito amor;
Eu queria fazer um espetáculo que levasse a platéia as lágrimas;
Eu queria fazer um espetáculo que tivesse uma mulher caída com sangue escorrendo pela boca e as vísceras aparecendo;
Eu queria fazer um espetáculo que acabasse com o sentimentalismo;
Eu queria fazer um espetáculo que reconstituísse a camada de ozônio, que despoluisse o Rio Tietê;
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse perdida, sem nunca saber como continuar;
Eu queria fazer um espetáculo que não tivesse nem princípio, nem meio, nem fim;
Eu queria fazer um espetáculo que mudasse o curso da história;
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse muito rica;
Eu queria fazer um espetáculo revolucionário;
Eu queria fazer um espetáculo impossível, que fosse uma ilusão, que não existisse.

FICHA TÉCNICA


CONCEPÇÃO E ATUAÇÃO – Ludmila Rosa

DIREÇÃO E CENOGRAFIA – Haroldo Rego

DRAMATURGIA – Ludmila Rosa e Haroldo Rego

CONSULTORIA DE HISTÓRIA – Tereza Freire

TRABALHO DE CORPO - Denise Stutz

ASS. de DIREÇÃO - Raquel Rocha

ILUMINAÇÃO - Tomás Ribas

FIGURINO - Marcelo Olinto

TRILHA SONORA - Lucas Marcier e Rodrigo Marçal (ARP.X)

PROJETO GRÁFICO - Fábio Arruda e Rodrigo Bleque (Cubículo)

PRODUÇÃO - Fomenta Produções

REALIZAÇÃO - Ganesha Produções